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Estruturas Desiguais



“Quando eu chegava da escola, almoçava, fazia o exercício e lavava os pratos. Isso com mais ou menos 10 anos. 
Eu só podia sair pra brincar na rua ou deixar uma amiguinha entrar depois de arrumar a casa. Limpar os móveis e varrer a casa fazia parte da rotina. 
Na mesma época da vida, do outro lado da cidade, meu marido chegava em casa e, após os exercícios da escola, ia brincar. 
Simples assim. Veja bem como são as coisas. 
A arrumação da casa fazia parte da minha vida, da dele não. Casamos e eu arrumo uma casa rapidamente. Sinto o cheiro de banheiro sujo a quilômetros. E móvel cheio de poeira me dá arrepios.
 “Mô, o banheiro tá sujo! Sua vez de lavar!”. “Nem vi, não tive tempo de limpar.” Mores, ai de mim se eu não visse o banheiro sujo. 
Minha mãe passava o dedo nos móveis e olhava pra gente, com uma cara que dava medo e dizia: “olha pra isso aqui!”. E eu entendia perfeitamente o recado. Corria pra pegar o pano e o lustra móveis. 
Eu aprendi a arrumar a casa rápido porque se eu demorasse eu não brincava. 
Não é um talento natural. 
Não é porque nasci pra cuidar da casa. É porque fui treinada pra isso. 
E isso acontecia com a maioria das minhas amigas também. 
E porque eu tô escrevendo sobre arrumação de casa? Porque você, mãe que me lê, deve entender que seu menino não nasceu com menos capacidade de limpar a casa e cuidar das próprias coisas e da família que uma menina. Que esse discurso de “queria uma menininha pra me ajudar” só te oprime e às futuras gerações também. 
E você, amigo pai, precisa entender que, além de enxergar o seu filho como alguém perfeitamente capaz, você tem o dever moral, ético e humano de ser um exemplo. 
O mundo que a gente nasceu e a forma que fomos criados não foram escolhas nossas. Mas sustentar essas estruturas desiguais é. Romper com elas também.”
Texto: Elisama Santos
criadora: @lari_pazeequilibrio

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