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Filosofia Kierkegaard


Se a verdade é subjetiva, decorre daí uma liberdade ilimitada. Kierkegaard não só rejeitou o determinismo lógico de Hegel (tudo está logicamente predeterminado para acontecer) como também sustentou a importância suprema do indivíduo e das suas escolhas lógicas ou ilógicas. Qualquer forma de absoluto (E aí está um ataque a Hegel) que não seja a liberdade, será necessariamente restritiva da liberdade. Qualquer forma de absoluto que não seja a liberdade, contraria a liberdade. Para Kierkegaard é mesmo impossível que a liberdade possa ser provada filosoficamente, porque qualquer prova implicaria uma necessidade lógica, o que é o oposto de liberdade.

O pensamento fundamental de Kierkegaard, e que veio a se constituir em linha mestra do Existencialismo, é a falta de um projeto básico para a existência do homem, venha de onde vier. Qualquer projeto para o homem representaria uma limitação à sua liberdade, e afirma que esta liberdade é, portanto, incompatível com a malha lógica em que, segundo Hegel, caem todos os fatos e também as ações humanas e, mais ainda, que a liberdade gera no homem profunda insegurança, medo e angústia. Não existe uma essência definidora do homem; nenhum projeto básico. Esse pensamento de Kierkegaard foi mais tarde traduzido por Sartre na frase "no homem, a existência precede a essência".

Sua crença na necessidade de que cada indivíduo faça uma escolha consciente e responsável tornou-se outro pilar do movimento existencialista. O individualismo existencialista é sua ênfase principal. Com efeito, dos temas do existencialismo contemporâneo, a maior parte já está nos escritos de Kierkegaard.

Angústia. Kierkegaard sentiu a necessidade de ampliar para a esfera da psicologia suas idéias a respeito da filosofia da liberdade. O resultado foi o conceito de angústia e o conceito de desespero, se podemos realmente diferenciá-los em sua obra, pois aparentemente, nas traduções inglesas, acham-se baralhados.

Em "O conceito de angústia", disse que a liberdade gera no homem profunda insegurança, medo e angústia. Ele focaliza a angústia, como medo do indefinido do desconhecido, diferente do medo e do terror diante do perigo conhecido, o medo e terror que deriva de uma ameaça objetiva (por exemplo, um animal, um assaltante, etc.). Esta é talvez a primeira obra escrita de psicologia existencial, - descobre um sentimento que não tem objeto definido, claro.

A liberdade presume possibilidades, e as possibilidades criam a angústia, seja porque estão escassas, ou, no outro extremo, porque existe um número muito grande de opções. Um colapso pode ocorrer tanto por muitas quanto por poucas possibilidades abertas ao indivíduo. Por isso torna-se um verdadeiro problema de vida descobrir quais são os verdadeiros dons e talentos de uma pessoa.

Em "Risco e incerteza" diz que cada decisão é um risco. A pessoa sente a si mesma rodeada e plena de incertezas. No entanto, ela decide. Existem possibilidades reais, - reconhece -, e qualquer filosofia que as negue é opressiva, sufocante. A angustia e o pavor diante da liberdade em relação às possibilidades, o que ele

considera uma doença do espírito, têm três origens: Uma é a materialidade, a inconsciência de que se é tanto um ser espiritual quanto físico.

Falta de espiritualidade: Estar inconsciente de que se tem um Eu - de que se é um ser espiritual e não meramente um ser físico ou físico-mental. Falhar em compreender que se é capaz de reflexão, que se é uma síntese. Outra origem é a consciência do Eu interior, quando o homem tem consciência do seu Eu, mas não o aceita, e desespera-se por ser esse Eu, por ser de um certo modo, sem conseguir modificar-se. Gostaria de ser César, por exemplo..

O Eu quer escapar do Eu que ele sabe que é. Parece que o indivíduo se desespera com respeito a alguma coisa. Mas é apenas aparência. Na verdade desespera com respeito a si mesmo e por isso quer se livrar de si próprio. Quanto tem um slogan ambicioso "Ou César ou nada" e não consegue chegar a ser César, ele se desespera por isso.

Mas isto também significa outra coisa: precisamente porque ele não conseguiu ser César, ele agora não consegue tolerar a si mesmo, ser ele mesmo. Conseqüentemente ele não se desespera porque não chegou a ser César mas se desespera sobre si mesmo pelo fato de não haver conseguido ser César. Conseqüentemente, desesperar-se sobre alguma coisa não é propriamente o desespero: este é desesperar-se de si mesmo porque não chegou a ser César. Desesperar alguém sobre si mesmo, em desespero de desejar livrar-se alguém de si mesmo - esta é a formula de todo desespero.

A terceira origem é o desespero do desafio, da provocação, da rebeldia, da oposição: consciente do eu interior e desejando afirmar esse Eu, o homem se desespera pelas suas limitações. Não reconhece a relatividade e a dependência última do Eu humano perante Deus.

Encapsulamento ou má fé. Passar da ignorância confortável para a autoconsciência leva ao pavor, ou ansiedade. Perguntando que estilo e estratégia uma pessoa usa para evitar a ansiedade, Kirkegaard pergunta como essa pessoa está escravizada por suas mentiras sobre ela mesma e para ela mesma. Uma forma de fuga é ignorar o próprio eu, tornar-se um autômato, apegar-se a um papel.

O caráter é uma estrutura construída para evitar a percepção do terror da perdição e da aniquilação que todos nós enfrentamos. Em "A doença para a morte", Kierkegaard nos lembra que nossa maior dificuldade não é porque temos um Eu e não ficamos leais a ele, mas que freqüentemente nós nem ao menos achamos em nos mesmos um Eu autêntico que mereça tal lealdade. Podemos perder o Eu e voltá-lo para atividades exteriores como uma camuflagem de seu vazio interior.

Filosofia

FILOSOFANDO COM  KIRKEGAARD


Freud, um grande leitor de Nietzsche, que por sua vez apoiou-se em Kirkegaard, com certeza tirou desse pensamento de Kierkegaard o que veio a rotular, na psicanálise, de
"mecanismo de defesa" e "repressão".

O homem automaticamente "cultural" está confinado pela cultura e é escravo dela, seduzido na trivialidade pela rotina confortável da vida social e das alternativas limitadas e seguridade opaca que ela lhe oferece. Tal pessoa ele chama filisteu. O filisteu teme a verdadeira liberdade, porque ela coloca em perigo a estrutura de negação que cerca sua rotina cultural, abrindo as possibilidades das quais ele quer distância.

É o que freqüentemente caracteriza o filisteu burguês - membro da confortável classe média urbana, mais provavelmente do mundo dos negócios. Filisteus burgueses operam dentro de fronteiras de esperteza com a qual eles tentam acomodar "o possível". Cálculo, autoproteção, onde métodos do tipo comercial são presumivelmente transferidos para a vida do espírito, com resultados fatais previsíveis. A pessoa materialista ignora que tem um Eu eterno.

Criança. Tem raízes também no pensamento de Kierkegaard o postulado da psicanálise existencial de que as mentiras do caráter são construídas pela a criança para ajustar-se a seus pais, ao seu mundo, além de aos seus próprios dilemas existenciais. Essas defesas do caráter tornam-se automáticas e inconscientes. Essas mentiras negam nossas ossibilidades. Conduzem as pessoas a ter medo de pensar por si mesmas. Deixar a criança

explorar o mundo e desenvolver seus próprios poderes dará a elas uma "sustentação interna", uma autoconfiança diante da experiência.

Maturidade. Saúde mental não é "ajustamento normal" ou "normalidade cultural". A pessoa realmente saudável é aquela que transcendeu a si mesma despindo-se das mentiras do nosso caráter, entendendo a verdade de nossa situação e quebrando nosso espírito fora de sua prisão condicionada. O amadurecimento requer ambos o reconhecimento da realidade de alguém, de seus verdadeiros dons e talentos e dos seus limites.

Angústia e pecado. O homem pode escapar da angústia pela fé. Kierkegaard insiste que o homem está em pecado e não pode compreender o bem porque não quer compreender, e precisa da revelação de Deus para mostrar que ele se acha em pecado. A ansiedade não é em si mesma um pecado, diz ele, pois é a reação natural da alma quando em face ao escancarado abismo da liberdade.

Em "A doença para a morte" diz que, experimentando o pavor, alguém salta para o pecado mas, se o desafio do cristianismo é aceito, passa da culpa à fé. Assim o pavor é o prelúdio do pecado e não sua conseqüência, como poderia a princípio parecer.

O homem pode escolher o pecado em sua fuga da angústia, e o pecado a certa altura, trará mais angústia. O próprio pecado traz ansiedade, um componente da ansiedade de liberdade. Sem a fé, a angústia leva ao desespero. O pavor é a ansiedade em face do eterno. Esta ansiedade pode levar o pecador de volta a Deus que o criou e lhe deu a liberdade, e assim a ansiedade pode ser salvadora pela fé. A angústia foi, então, o caminho para a fé.

Ética. Individualismo moral. Kierkegaard aborda uma questão ética polêmica, ao indagar se um julgamento moral pode ser suspenso em virtude de um poder maior. Ele exemplifica com o episódio em que Abraão recebe de Deus a ordem de matar Isaac. Assim ele vê o sacrifício de Abraão e Isaac: obediência a um dever, no caso a obediência a uma ordem de Deus que é a essência de tudo que é ético, mas que exigia dele um ato não ético. Kierkegaard buscava justificar-se por haver rompido seu noivado, o que ele considerava um ato não ético, porém o fez por um motivo que considerava eticamente superior, sua dedicação a Deus. Dos três modos de vida que ele considerava possíveis, o modo de vida estético, o modo de vida ético e o modo de vida religioso, este último era superior aos demais.

Modos. No caminho da vida há várias direções, embora se coloquem em três categorias de escolha. Assim é que distingue três tipos de vida a escolher, três escolhas fundamentais do

homem: a estética, a ética e a religiosa que não são três concepções teóricas do mundo, mas sim, três maneiras de viver. Inicialmente Kierkegaard apresenta apenas dois modos de vida, ou estágios, se tomados como etapas transientes.

Modo de vida estético. O esteticista vive no instante e não conhece outro fim da vida senão gozar o instante que passa. Infiel, quer sempre provar novidades, foge permanentemente

ao tédio, recusa engajar-se, são os Don Juans ou o intelectual cético e diletante.

Modo ético. No modo de vida ético o homem encarna as regras universais do dever. Trabalhador consciencioso, marido e pai devotado, leva tudo a sério, é pouco flexível, prisioneiro de idéias acabadas, e se crê cidadão exemplar.

Modo religioso. No modo de vida religioso o homem não está submetido a regras gerais mas é um indivíduo diante de Deus. Sua relação com Deus não se traduz em conceitos e regras gerais, mas em inspiração fora do universo da razão. Abraão está pronto para sacrificar

seu filho Isaac porque Deus o ordena, mas esta ordem não é justificada por nenhuma finalidade ética.

7. Conclusão

Assim, Filósofo e teólogo dinamarquês, educado num ambiente de intensa espiritualidade pietista, doutora-se em 1841 com um estudo sobre o conceito da ironia. A sua vida é marcada pelo noivado, acabado um ano mais tarde, com uma jovem, e pelo seu ríspido antagonismo com a igreja luterana. As suas obras podem agrupar-se em três blocos: a descrição fenomenológica da existência (Este ou o Outro, Temor e Tremor, O Conceito de Angústia), a elaboração filosófica do problema da verdade e da revelação religiosa (Migalhas
Filosóficas,
etc.) e a meditação sobre a linguagem evangélica (A Doença Mortal, Discursos Religiosos).

No pensamento de Kierkegaard são básicas as noções de possibilidade e de escolha (entre as possibilidades existenciais: a estética, a ética e a religiosa). Em O Diário do Sedutor desenvolve o conflito entre o homem estético e o homem ético. E propõe uma terceira forma de existência: a religiosa. Kierkegaard sublinha o caráter absurdo da verdade e da existência cristãs. O homem acautela-se, perante Deus, de que está manchado pelo pecado. Daí nasce à angústia e o remorso.

A influência de Kierkegaard, escritor sugestivo e inquietante, faz-se sentir sobretudo na segunda metade do século xix (Strindberg, Ibsen, Unamuno) e na literatura alemã (Thomas Mann, Franz Kafka). Na filosofia do século xx é considerado um precursor do Existencialismo.

Soren Kierkegaard (1813-1855) não foi um filósofo no sentido acadêmico do termo. Mas produziu o que muita gente espera da filosofia. Não escreveu sobre o mundo, escreveu sobre a vida – sobre como vivemos e como escolhemos viver. Seu tema foi o indivíduo e sua existência: o "ser existente". Na visão de Kierkegaard, essa entidade puramente subjetiva está além do alcance da razão, da lógica, dos sistemas filosóficos, da teologia ou mesmo das "pretensões da psicologia". No entanto, é a fonte de tudo isso. O ramo da filosofia

criado por Kierkegaard acabaria conhecido como existencialismo.

Nos seus últimos anos, Kierkegaard atacou violenta e abertamente a Igreja e zombou dos líderes cristãos dinamarqueses. Não há como fazer vistas grossas ao fato de que ele não só deixou de ir às reuniões da igreja como também incentivou os demais cristãos a que seguissem o seu exemplo. E que ele foi mais longe ainda, afirmando que o cristianismo do Novo Testamento havia acabado! Finalmente, no seu leito de morte, ele pretendia tomar a ceia das mãos de um leigo e se recusou a recebê-la das mãos de um clérigo da igreja oficial, morrendo sem tomá-la.

Referências Bibliográficas

CANCLINI, Arnoldo. Fragmentos Filosóficos. Buenos Aires, Imprensa Metodista, 1956.

CHAVES, Odilon M. Sofrimento e Fé em Kierkegaard. Monografia, S.B. do Campo, 1978

LOWRIE, Walter. Kierkegaard's Attack Upon "Christendom". Boston, The Beacon Press, 1957

LOWRIE, Walter. Kierkegaard, Christian Discourses. New York, Oxford, 1961.

SIMÕES, Carlos O. P. Ética e Fé em Kierkegaard. Monografia, S.B. do Campo, 1958.

VERGEZ, André. História dos filósofos ilustrada pelos textos. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1976.

MESNARD, Pierre. Kierkegaard. Edições 70, Coleção Biblioteca Básica de Filosofia.

Kierkegaard, Soren A. - Diário de Um Sedutor e outras obras. Coleção "Os Pensadores", Ed. Abril, São Paulo, 1989.

Filosofia

FILOSOFANDO COM  KIRKEGAARD


Freud, um grande leitor de Nietzsche, que por sua vez apoiou-se em Kirkegaard, com certeza tirou desse pensamento de Kierkegaard o que veio a rotular, na psicanálise, de
"mecanismo de defesa" e "repressão".

O homem automaticamente "cultural" está confinado pela cultura e é escravo dela, seduzido na trivialidade pela rotina confortável da vida social e das alternativas limitadas e seguridade opaca que ela lhe oferece. Tal pessoa ele chama filisteu. O filisteu teme a verdadeira liberdade, porque ela coloca em perigo a estrutura de negação que cerca sua rotina cultural, abrindo as possibilidades das quais ele quer distância.

É o que freqüentemente caracteriza o filisteu burguês - membro da confortável classe média urbana, mais provavelmente do mundo dos negócios. Filisteus burgueses operam dentro de fronteiras de esperteza com a qual eles tentam acomodar "o possível". Cálculo, autoproteção, onde métodos do tipo comercial são presumivelmente transferidos para a vida do espírito, com resultados fatais previsíveis. A pessoa materialista ignora que tem um Eu eterno.

Criança. Tem raízes também no pensamento de Kierkegaard o postulado da psicanálise existencial de que as mentiras do caráter são construídas pela a criança para ajustar-se a seus pais, ao seu mundo, além de aos seus próprios dilemas existenciais. Essas defesas do caráter tornam-se automáticas e inconscientes. Essas mentiras negam nossas ossibilidades. Conduzem as pessoas a ter medo de pensar por si mesmas. Deixar a criança

explorar o mundo e desenvolver seus próprios poderes dará a elas uma "sustentação interna", uma autoconfiança diante da experiência.

Maturidade. Saúde mental não é "ajustamento normal" ou "normalidade cultural". A pessoa realmente saudável é aquela que transcendeu a si mesma despindo-se das mentiras do nosso caráter, entendendo a verdade de nossa situação e quebrando nosso espírito fora de sua prisão condicionada. O amadurecimento requer ambos o reconhecimento da realidade de alguém, de seus verdadeiros dons e talentos e dos seus limites.

Angústia e pecado. O homem pode escapar da angústia pela fé. Kierkegaard insiste que o homem está em pecado e não pode compreender o bem porque não quer compreender, e precisa da revelação de Deus para mostrar que ele se acha em pecado. A ansiedade não é em si mesma um pecado, diz ele, pois é a reação natural da alma quando em face ao escancarado abismo da liberdade.

Em "A doença para a morte" diz que, experimentando o pavor, alguém salta para o pecado mas, se o desafio do cristianismo é aceito, passa da culpa à fé. Assim o pavor é o prelúdio do pecado e não sua conseqüência, como poderia a princípio parecer.

O homem pode escolher o pecado em sua fuga da angústia, e o pecado a certa altura, trará mais angústia. O próprio pecado traz ansiedade, um componente da ansiedade de liberdade. Sem a fé, a angústia leva ao desespero. O pavor é a ansiedade em face do eterno. Esta ansiedade pode levar o pecador de volta a Deus que o criou e lhe deu a liberdade, e assim a ansiedade pode ser salvadora pela fé. A angústia foi, então, o caminho para a fé.

Ética. Individualismo moral. Kierkegaard aborda uma questão ética polêmica, ao indagar se um julgamento moral pode ser suspenso em virtude de um poder maior. Ele exemplifica com o episódio em que Abraão recebe de Deus a ordem de matar Isaac. Assim ele vê o sacrifício de Abraão e Isaac: obediência a um dever, no caso a obediência a uma ordem de Deus que é a essência de tudo que é ético, mas que exigia dele um ato não ético. Kierkegaard buscava justificar-se por haver rompido seu noivado, o que ele considerava um ato não ético, porém o fez por um motivo que considerava eticamente superior, sua dedicação a Deus. Dos três modos de vida que ele considerava possíveis, o modo de vida estético, o modo de vida ético e o modo de vida religioso, este último era superior aos demais.

Modos. No caminho da vida há várias direções, embora se coloquem em três categorias de escolha. Assim é que distingue três tipos de vida a escolher, três escolhas fundamentais do

homem: a estética, a ética e a religiosa que não são três concepções teóricas do mundo, mas sim, três maneiras de viver. Inicialmente Kierkegaard apresenta apenas dois modos de vida, ou estágios, se tomados como etapas transientes.

Modo de vida estético. O esteticista vive no instante e não conhece outro fim da vida senão gozar o instante que passa. Infiel, quer sempre provar novidades, foge permanentemente

ao tédio, recusa engajar-se, são os Don Juans ou o intelectual cético e diletante.

Modo ético. No modo de vida ético o homem encarna as regras universais do dever. Trabalhador consciencioso, marido e pai devotado, leva tudo a sério, é pouco flexível, prisioneiro de idéias acabadas, e se crê cidadão exemplar.

Modo religioso. No modo de vida religioso o homem não está submetido a regras gerais mas é um indivíduo diante de Deus. Sua relação com Deus não se traduz em conceitos e regras gerais, mas em inspiração fora do universo da razão. Abraão está pronto para sacrificar

seu filho Isaac porque Deus o ordena, mas esta ordem não é justificada por nenhuma finalidade ética.

7. Conclusão

Assim, Filósofo e teólogo dinamarquês, educado num ambiente de intensa espiritualidade pietista, doutora-se em 1841 com um estudo sobre o conceito da ironia. A sua vida é marcada pelo noivado, acabado um ano mais tarde, com uma jovem, e pelo seu ríspido antagonismo com a igreja luterana. As suas obras podem agrupar-se em três blocos: a descrição fenomenológica da existência (Este ou o Outro, Temor e Tremor, O Conceito de Angústia), a elaboração filosófica do problema da verdade e da revelação religiosa (Migalhas
Filosóficas,
etc.) e a meditação sobre a linguagem evangélica (A Doença Mortal, Discursos Religiosos).

No pensamento de Kierkegaard são básicas as noções de possibilidade e de escolha (entre as possibilidades existenciais: a estética, a ética e a religiosa). Em O Diário do Sedutor desenvolve o conflito entre o homem estético e o homem ético. E propõe uma terceira forma de existência: a religiosa. Kierkegaard sublinha o caráter absurdo da verdade e da existência cristãs. O homem acautela-se, perante Deus, de que está manchado pelo pecado. Daí nasce à angústia e o remorso.

A influência de Kierkegaard, escritor sugestivo e inquietante, faz-se sentir sobretudo na segunda metade do século xix (Strindberg, Ibsen, Unamuno) e na literatura alemã (Thomas Mann, Franz Kafka). Na filosofia do século xx é considerado um precursor do Existencialismo.

Soren Kierkegaard (1813-1855) não foi um filósofo no sentido acadêmico do termo. Mas produziu o que muita gente espera da filosofia. Não escreveu sobre o mundo, escreveu sobre a vida – sobre como vivemos e como escolhemos viver. Seu tema foi o indivíduo e sua existência: o "ser existente". Na visão de Kierkegaard, essa entidade puramente subjetiva está além do alcance da razão, da lógica, dos sistemas filosóficos, da teologia ou mesmo das "pretensões da psicologia". No entanto, é a fonte de tudo isso. O ramo da filosofia

criado por Kierkegaard acabaria conhecido como existencialismo.

Nos seus últimos anos, Kierkegaard atacou violenta e abertamente a Igreja e zombou dos líderes cristãos dinamarqueses. Não há como fazer vistas grossas ao fato de que ele não só deixou de ir às reuniões da igreja como também incentivou os demais cristãos a que seguissem o seu exemplo. E que ele foi mais longe ainda, afirmando que o cristianismo do Novo Testamento havia acabado! Finalmente, no seu leito de morte, ele pretendia tomar a ceia das mãos de um leigo e se recusou a recebê-la das mãos de um clérigo da igreja oficial, morrendo sem tomá-la.

Referências Bibliográficas

CANCLINI, Arnoldo. Fragmentos Filosóficos. Buenos Aires, Imprensa Metodista, 1956.

CHAVES, Odilon M. Sofrimento e Fé em Kierkegaard. Monografia, S.B. do Campo, 1978

LOWRIE, Walter. Kierkegaard's Attack Upon "Christendom". Boston, The Beacon Press, 1957

LOWRIE, Walter. Kierkegaard, Christian Discourses. New York, Oxford, 1961.

SIMÕES, Carlos O. P. Ética e Fé em Kierkegaard. Monografia, S.B. do Campo, 1958.

VERGEZ, André. História dos filósofos ilustrada pelos textos. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1976.

MESNARD, Pierre. Kierkegaard. Edições 70, Coleção Biblioteca Básica de Filosofia.

Kierkegaard, Soren A. - Diário de Um Sedutor e outras obras. Coleção "Os Pensadores", Ed. Abril, São Paulo, 1989.

FILOSOFIA & INQUIETAÇÕES HUMANAS

Porque a Filosofia nasceu na Grécia

Sabemos que um dos elementos originantes da filosofia foi a inquietação humana na busca de explicações para o real. Nessa busca, uma das primeiras formas de se tentar explicar o mundo foi com os mitos. Com o transcorrer dos tempos as explicações míticas já não satisfaziam mais. A constatação disso se deu na Grécia. Essa, portanto, é a nossa questão, aqui: entender como e porque a filosofia, como a entendemos hoje, nasceu na Grécia.

Todos os homens, em todos os tempos, desenvolveram algum tipo de reflexão, explicando seu mundo. Essa reflexão pode ser entendida como um filosofar. O ser humano sempre foi pensante e perguntante e isso fez dele um ser filosofante. Entretanto, a filosofia, como é entendida hoje, um sistema lógico e sistemático, nasceu na Grécia. Mas isso não foi um fato aleatório. Houve um contexto para isso acontecer. Isso porque, como afirma o professor espanhol M. G. Morente: “A filosofia, mais do que qualquer outra disciplina, necessita ser vivida” (MORENTE, 1967, p. 23). Ou seja, para ser teorizada precisou ser vivenciada. A filosofia, portanto nasce não de mentes criativas, mas de necessidades específicas de teorização, ou de explicação racional.

 Diversos outros povos desenvolveram explicações para o mundo, o homem e as relações sociais, mas fizeram isso, como vimos, de forma mítica; nenhum com as características daquelas desenvolvida pelos Gregos a partir, principalmente, do século VII aC. Sem entrar na particularidade de cada cultura, podemos assinalar alguns exemplos. Podemos dizer que para os orientais o universo é mantido pelo equilíbrio de forças opostas simbolizado na filosofia do Yin e Yang. Por sua vez os hebreus explicam a origem do mundo mediante a ação criadora de Deus, que entrega sua criação aos seres humanos, como podemos ler na Bíblia, no livro do Gênesis.

Em várias culturas, de várias nações de indígenas brasileiros, encontramos narrativas míticas explicando as origens tanto daquele povo como do mundo como é conhecido por aquela civilização.
E assim por diante, cada povo tem a sua explicação, a sua cosmovisão. Observando cada mitologia, em cada cultura diferente, podemos nos colocar a questão: qual é a filosofia que os mantém?

 Nessas mitologias pode ser encontrado algum filosofar?
A pergunta que você deve estar se fazendo é: Se cada civilização deu uma explicação para suas origens e as origens do mundo, por que a forma desenvolvida pelos gregos fez tanta diferença? A resposta poderia ser simplificada ao dizermos que a estrutura lógico-sistemática dos gregos fez-se mais eficiente para o contexto sócio-político-econômico em que estava inserido o mundo ocidental. Foi essa estruturação ideológica e filosófica que ofereceu a base de organização, sustentação e manutenção para o poder político e religioso da civilização, chamada ocidental, que se desenvolveu na Europa. A Europa se fez, principalmente, a partir da filosofia grega e da fé cristã.

A filosofia grega possibilitou a estruturação racional das realidades e das relações sociais e políticas que se desenvolveram na Europa; e a fé cristã possibilitou a estruturação da moralidade das relações sociais e políticas nesse continente, possibilitando que essa civilização se impusesse a quase todo o mundo. Tanto que nós, na América, mantemos esses valores.

Neste momento seria interessante recordar o filme, Helena de Tróia, em que parecem várias cenas mostrando o processo pelo qual os cidadãos gregos criaram algumas instituições que permanecem até hoje: (o voto; a necessidade de argumentação; o direito de defender sua idéia) como na cena em que lançam sorte para decidir quem desposaria Helena; cena essa em que aparece um diálogo importante: “onde já se viu isso acontece?” pergunta um dos personagens, recebendo como resposta: “sejamos os primeiros!” Esse filme pode ser analisado paralelamente à analise do processo de surgimento da filosofia, na Grécia, e da música Mulheres de Atenas, cantada por Chico Buarque.

Um bom exercício histórico-filosófico-cultural seria, agora, comparar como duas sociedades gregas, Ateniense e Espartana, tratavam as mulheres; qual era a função da mulher na sociedade Ateniense e na sociedade Espartana?

Na música de Chico Buarque as mulheres de Atenas: vivem, sofrem, despem-se, para seus maridos e para eles geram filhos ao mesmo tempo em que temem perdê-los na guerra. Depois de descobrir como os espartanos tratavam suas mulheres, compare-os com a sociedade atual. Qual é o espaço da mulher, na sociedade atual? Por que é assim?
    
Continuemos nossa tentativa de compreensão do processo de organização da filosofia. Podemos dizer que a primeira grande característica da filosofia grega foi a superação da mentalidade mítico-religiosa. Mas houve, também, algumas condições históricas. Podem ser enumeradas várias causas ou circunstâncias a partir das quais a filosofia se desenvolveu, na Grécia (CHAUÍ, 1995). Entretanto, aqui para nosso estudo, vamos nos concentrar em alguns elementos políticos, sociais, culturais e econômicos que ajudam a explicar o processo de transição da reflexão mítica para filosófica.

Como estamos afirmando, a filosofia nasceu a partir de alguns pressupostos que aqui estamos mostrando como causas políticas, sociais, culturais e econômicas.

Causa Política:
A política, como a entendemos hoje, nasceu na Grécia. E esse elemento foi importante para o desenvolvimento da filosofia. Principalmente por que se deu a partir de um processo de reorganização das relações de poder. As tribos e clãs se reestruturaram dando origem às cidades-estado. O poder que era exercido pelo “patriarca” ou pelo irmão mais velho, passou a ser questionado e, na cidade (polis) organizaram-se as assembléias dos cidadãos (homens livres, ricos e que tinham nascido naquela cidade). Devemos notar que dessas assembléias, que aconteciam em praça pública onde se reuniam os cidadãos com direito a voz e voto, estavam excluídos: mulheres, crianças, estrangeiros e escravos. Nas assembléias da praça eram tomadas as decisões a partir dos debates, das argumentações pró e contra. As decisões nasciam dos debates.

Causa Social:
A organização social se estruturou machista, principalmente em Atenas, que foi um dos principais focos de irradiação da cultura grega. Essa sociedade tinha por base o regime de escravidão: o trabalho do escravo permitia aos cidadãos mais tempo para se dedicarem à política e ao debate: é que podemos chamar de ócio virtuoso. As relações sociais entre os cidadãos, com mais tempo disponível para os debates, travavam conhecimento com outros povos e costumes, o que lhes permitia fazer comparações e generalizações e tirar conclusões novas. A sociedade grega, antes agrária e clânica, nos tempos do desenvolvimento da filosofia estava estruturada na cidade e se fundamentava no comércio e numa sociedade escravista.

Causa Cultural:
A cultura é uma expressão da sociedade. Mas no caso grego isso tem um significado especial. As cidades-estados, gregas, estavam voltadas para o exterior, para o comércio. Havia poucas relações intracontinente. Mas por mar e com povos diferentes havia intenso intercâmbio não só comercial, como também cultural. Assim os gregos recebiam muitas influências de outros povos que lhes traziam valores culturais diferentes. Esse intercâmbio possibilitou assimilar novas informações que, cruzadas com seus conhecimentos, possibilitaram novas conclusões.

 Os gregos aprenderam muito com os povos com os quais mantinham relações comerciais. E isso foi sendo incorporado ao seu substrato cultural. Algumas inovações gregas: calendário contando o tempo linearmente, a vida essencialmente urbana, comercial e fabril, com divisão social das funções. A partir de influências fenícias escrita passa a ser alfabética, deixando de ser ideográfica, como em outros povos. Isso facilitou a prática de construção de textos e da comunicação, através da combinação de caracteres para formar palavras. Essa forma de escrita facilitou a comunicação pormenorizada dos conceitos. A novidade grega, portanto, não é a criação, mas a re-elaboração.

Causa Econômica:
Este talvez seja o ponto central para a explicação do desenvolvimento da filosofia, no mundo grego. Sua economia não se baseava só na agro-pecuária, como a maioria dos povos antigos. Eles desenvolveram intensa atividade comercial – e industrial. Essa atividade exigia contato constante com outras culturas e valores. A utilização da moeda, além de facilitar as transações comerciais, ajudava na troca a partir de cálculos feitos por um valor abstrato, notando que vários conceitos matemáticos e geométricos ainda hoje utilizados, foram desenvolvidos nesse contexto. Além disso, há a presença do escravo. E, talvez, tenha sido esse o elemento determinante e grande diferenciador da economia grega em relação os demais povos.

Diferentemente do “Modo de Produção Asiático”, anterior, aqui a escravidão não estava a serviço do estado, mas dos cidadãos; o escravo era encarregado de desenvolver todas as atividades, permitindo ao cidadão desenvolver, além de desenvolver as relações comerciais, dedicar-se ao ócio. Enquanto o escravo se dedicava à produção, o cidadão se dedicava ao comércio, de onde tirava mais informações e ao ócio, quando refletia as novas informações e as debatia com seus concidadãos.

A filosofia, portanto, nasce desse contexto sócio-político-econômico e cultural e da ociosidade.
Esses elementos combinados permitiram aos gregos desenvolver explicações do mundo e da sociedade de forma diferente do que havia sido feito até aquele momento. Superaram as estruturas e as cosmovisões de seus contemporâneos como a religiosa criacionista, dos Hebreus; a místico-espiritualista, dos indo-chineses; a belicosa dos mesopotâmicos e a sua própria cosmovisão mítica.

A comparação entre as diferentes cosmovisões os levou a questionar a verdade de cada uma delas. Estava, com isso, colocado um dos problemas centrais da filosofia: a verdade ou a possibilidade de se conhecer a verdade. Constataram que era impossível a mesma realidade ser explicada de diferentes modos e ser, simultaneamente, verdadeira em cada uma dessas explicações.

Esse pode ser entendido como o processo da passagem da explicação mítica para a explicação racional para as realidades do mundo e as situações humanas. Mas esse avanço intelectual foi possível graças ao trabalho escravo que permitia aos cidadãos tempo ocioso para os debates na Ágora (a praça que era o centro da vida econômica, social, política, cultural). Por isso é que se pode dizer que a filosofia, como a entendemos hoje, tem uma origem espaço-temporal bem determinada, sem, contudo, negar a capacidade reflexiva dos outros povos, pois cada povo, assim como cada pessoa, a seu modo, desenvolve um processo de reflexão.

Todos nós somos filosofantes; mesmo quando negamos essa capacidade ou renunciamos nosso direito de conduzir nossa vida, somos obrigados a tomar uma decisão, e isso já implica em uma reflexão. Temos que refletir para nos decidirmos. Ou seja, somos filosofantes. Refletimos e buscamos a verdade, ou refletimos e tomamos a decisão de abrir mão de nossa capacidade de decidir. E isso é um processo filosófico, pois demanda reflexão. O que se observa, na atualidade não é a falta da capacidade de filosofar, mas a renúncia a essa capacidade. E ao se negar a pensar a pessoa passa a ser pensada por outras, sendo por outras conduzida.

A capacidade de reflexão é a primeira face da filosofia. Mas isso não é tudo. Pois a reflexão, como a entendemos até a sociedade grega, caracterizou-se pela subjetividade das explicações mítico-religiosas. Com os gregos manifesta-se a segunda característica, que marca a filosofia; a reflexão passa a ser objetiva e racional. Depende, não mais da subjetividade , mas da objetividade racional. A validade de uma verdade se deve não ao que “eu acho”, mas àquilo que se pode comprovar, pelo raciocínio e pela argumentação.

Essa reflexão argumentativa é a base da filosofia no processo desenvolvido pelos gregos, a partir do século VII. E isso graças a vários fatores, entre eles o fato e a presença do trabalho escravo, liberando o cidadão de necessidade de trabalhar para subsistir. Nesse sentido, podemos dizer, também, que a filosofia nasceu do ócio.

A filosofia, desenvolvida pelos gregos possibilitou um grande passo na busca da compreensão do real. O desenvolvimento da racionalidade permitiu ver além das aparências. Permitiu ver mais. Permitiu ver, além do fato, suas origens e suas conseqüências, que passam a ser, também fatos interligados a outros. Inaugura-se, dessa forma, uma nova visão de história. É possível perceber a ação humana na construção da história; a vida humana deixa de ser uma brincadeira dos deuses, para ser resultante dos condicionamentos e das relações humanas.

REFERÊNCIAS:
BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1989
CHAUÍ, M.. Convite à Filosofia. 5ªed. S. Paulo: Ática, 1995.
MORENTE, Manuel Garcia. Fundamentos de filosofia, lições preliminares. 3 ed. São Paulo: Mestre Jou. 1967
SÁTIRO, Angélica; Wuensch, Ana M. Pensando Melhor: Iniciação ao filosofar. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 42

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação
Filósofo, Teólogo, Historiador
- Perfil do Autor:
Concluí mestrado em Educação (UFMS), especialização em Educação (UNESC-Cacoal-RO), especialização em Metodologia do Ensino Superior (UNIR-RO), especialização em Metodologia de Leitura Popular da Bíblia (CEBI-RS). Concluí os cursos de graduação em Filosofia, Teologia, História. Sou Professor de História e Filosofia pela rede pública estadual (R. Moura-RO); professor de Filosofia na Faculdade de Pimenta Bueno - FAP (Pimenta Bueno-RO), na Faculdade de Rolim de Moura - FAROL (R.Moura-RO), na UNESC (Cacoal-RO). Radialista e colaborador em jornais da região de Rolim de Moura – RO.
Publiquei alguns livros de circulação regional além de artigos em revistas científicas de Rondônia.


Meus textos são publicados regularmente no jornal Folha da Mata (Rolim de Moura-RO) nos blogs:
  site www.webartigos.com 

FILOSOFIA

A Filosofia Grega

A filosofia grega, que é a própria filosofia em si, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego.

Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum que outros povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, o hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América, não possuam sabedoria, pois possuíam e possuem. Não quer dizer que todos esses povos não tivessem desenvolvido o pensar e as formas de conhecimento da Natureza e dos seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem.

Os chineses desenvolveram um pensamento muito profundo sobre a existência de coisas, seres e ações contrarias ou opostos, que formam a realidade. Deram ás oposições o nome de dois princípios: Yin e Yang. Yin é o principio feminino passivo na Natureza, representado pela escuridão, o frio e a umidade; Yang é o principio masculino ativo na Natureza, representado pela luz, o calor e o seco. Os dois princípios se combinam e formam todas as coisas, por isso, são feitas de contrários ou de oposições. O mundo, portanto, é feito da atividade masculina e da passividade feminina.

Já na filosofia grega, por exemplo, o próprio Pitágoras. Ele diz que a Natureza é feita de um sistema de relações ou de proporções matemáticas produzidas a partir da unidade (o numero um e o ponto), da oposição entre os números pares e impares, e da combinação entre as superfícies e os volumes (as figuras geométricas), de tal modo que essas proporções e combinações aparecem para nossos órgãos dos sentidos sob a forma de qualidades contrarias: quente-frio, grande-pequeno, seco-úmido, áspero-liso, claro-escuro, duro-mole, etc.

      Segundo Pitágoras, o pensamento alcança a realidade em sua estrutura matemática enquanto nossos sentidos ou nossa percepção alcançam o modo como à estrutura matemática da Natureza aparece para nós, Istoé, sob a forma de qualidades opostas.

      A filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que surgiu especificamente com os gregos e que, por razoes históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura européia ocidental, da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos.

      Através da filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos de razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte. Alias, basta observarmos que palavras como lógica, técnica, ética, política, monarquia, anarquia, democracia, física, zoológico, farmácia, entre muitas outras, são palavras gregas, para percebemos a influencia decisiva e predominante da filosofia grega sobre a formação do pensamento e das instituições das sociedades européias ocidentais.

O legado da filosofia grega para o ocidente europeu

      Por causa da colonização européia das Américas, nós também fazemos parte – ainda que de modo inferiorizado e colonizado – do Ocidente europeu e assim também somos herdeiros do legado que a filosofia grega deixou para pensamento ocidental europeu.

      Desse legado, podemos destacar como principais contribuições as seguintes:

• A idéia de que a Natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais, isto é, os mesmos em toda parte e em todos os tempos. A lei da gravitação afirma que todo corpo, quando sofre a ação de um outro, produz uma reação igual e contraria que pode ser calculada usando elementos do calculo a massa do corpo afetado, a velocidade e o tempo com que à ação e a reação se deram. Essa lei é necessária, isto é, nenhum corpo do Universo escapa dela e pode funcionar de outra maneira que não desta; e esta lei é universal, isto é, é valida por todos os corpos em todos os tempos e lugares.

• A idéia de que as leis necessárias e universais da Natureza podem ser plenamente conhecidas pelo nosso pensamento, isto é, não são conhecimentos misteriosos e secretos, que precisariam ser revelados por divindades, mas são conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e capacidade, pode alcançar.

• A idéia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras e normas universais e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o verdadeiro do falso.

• A idéia de que as praticas humanas, isto é, a ação moral, a política, as técnicas e as artes dependem da vontade livre, da deliberação e da discussão, da nossa escolha passional (ou emocional) ou racional, de nossas preferências, segundo certos valores e padrões, que foram estabelecidos pelos próprios seres humanos e não por imposições misteriosas e incompreensíveis, que lhes teriam sido feitas por forças secretas, invisíveis, sejam elas divinas ou naturais, e impossíveis de serem conhecidas.

• A idéia de que os acontecimentos naturais e humanos são necessários, porque obedecem a leis naturais ou da natureza humana, mas também podem ser contingentes ou acidentais, quando dependem das escolhas e deliberações dos homens, em condições determinadas.

      Um dos legados mais importantes da filosofia grega é, portanto, essa diferença entre o necessário e o contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo – “tudo é necessário, temos que nos conformar e nos resignar” –, mas também evitar a ilusão de que podemos tudo quanto quisermos, se alguma força extra natural ou sobrenatural nos ajudar, pois a Natureza segue leis necessárias que podemos conhecer e nem tudo é possível, por mais que o queiramos.

• A idéia de que os seres humanos, por Natureza, aspiram ao conhecimento verdadeiro, á felicidade, á justiça, Istoé, que os seres humanos não vivem nem agem cegamente, mas criam valores pelos quais dão sentido ás suas vidas e ás suas ações.

      A filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.

      Em suma, a filosofia grega surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrario, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos; quando se descobriu que tal conhecimento depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, alem de a verdade poder ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida.

SOCIEDADES SECRETAS

SOCIEDADES SECRETAS
Por Pedro Augusto Rezende Rodrigues
Apesar de poucos saberem, as sociedades secretas nasceram praticamente juntas com a civilização. Tudo começou nas sociedades da Babilônia, do antigo Egito, da Pérsia e da Síria, onde os primeiros grupos de homens começaram a ter interesse em conhecer os mistério esotéricos e utiliza-los com o propósito político.
Essa busca pelo conhecimento esotérico poderia ser ambíguo, poderia os levar para o céu, ou para o inferno; para a luz ou para a escuridão; para a bondade ou para a maldade; das descobertas de conhecimentos para se alcançar as verdades divinas ou para manipular forças espirituais no plano físico. Nessa ambiguidade, ou dubiedade de propósitos é que reside uma das principais razões das sociedades secretas.
Apesar de todo esse clima pesado que circula esse assunto, nem todas as sociedades secretas são algumas pessoas que se reúnem para fazer o mal. Pelo contrário, boa parte delas cresceram com as melhores intenções possíveis, em busca do conhecimento que revelasse a verdade eterna e iluminasse o caminho do homem. Porém há fatos que comprovam que há também sociedades que nasceram com princípios puros e sagrados e no decorrer do tempo foram sofrendo mutações principalmente quando colocada em pratica e resultaram em ações não muito bem vistas.
A partir de várias histórias a respeito do crescimentos dessas sociedades, podemos definir que qualquer sociedade secreta é composta por “iniciados”. Essas pessoas são aquelas que tiveram acesso aos “mistérios”, e acreditam que os segredos revelados ou descobertos por eles, não deveriam ser compartilhados com o mundo, pois o mesmo era compostos por pessoas profanas e vulgares, que seriam incapazes de compreender esse “mistério”.
A principal fonte da tradição das sociedades secretas é sem duvida a religião. Das crenças do Egito Antigo ao cristianismo, os mistérios religiosos sempre alimentaram um grande mistério e proporcionaram o surgimento de várias sociedades secretas, com a Cabala, que está ligada aos ensinamentos de Moisés, ou os Cavaleiros Templários, uma ordem militar religiosa formada no século XII sob a benção da igreja Católica.
Hoje em dia, o termo “secreta” é meio indevido ao definirmos algumas dessas sociedades. O que há de secreto mesmo são as reuniões, os encontros, e vários mistérios que circulam em volta desse assunto. Agora as instituições propriamente ditas, e seus membros frequentadores (na maioria das vezes) não há nada de secretos. A maçonaria por exemplo, ela está em qualquer cidade, em qualquer esquina, e todos sabem que ela está lá, que ela existe naquela cidade e conhecem algum membro. Agora o que eles fazem la dentro, qual a finalidade desses encontros, o porque da existência dessa instituição. Isso sim é secreto. E está guardado a sete chaves.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_secreta
http://www.scribd.com/doc/32406288/As-Sociedades-Secretas

FILOSOFIA DA HIPOCREZIAS

O trote universitário ou trote estudantil

Por Thais Pacievitch
        O trote universitário ou trote estudantil é uma espécie de ritual de iniciação dos calouros, ou seja, dos estudantes que, por terem sido aprovados no vestibular, ingressaram no ensino superior.
      O trote acontece nos primeiros dias de aula, sendo que os responsáveis pelo trote são os veteranos, alunos que já estão cursando o ensino superior.
      Esse tradicional ritual de iniciação é marcado por atividades nas quais os veteranos submetem os calouros a situações humilhantes, degradantes, e por vezes violentas, diferentes de um pressuposto ritual de acolhida e integração.
   Segundo historiadores, o trote surgiu na Europa, na Idade Média. Foi trazido para o Brasil pelos estudantes da elite brasileira que cursavam o ensino superior em Portugal.
    Atualmente, algumas instituições de ensino superior promovem o trote solidário, ou trote cidadão.   
   Nesse trote não há violência, humilhações e bebidas. Ao invés dessas práticas, os veteranos organizam atividades a serem realizadas pelos calouros, como, por exemplo, plantar árvores, doar sangue, doar alimentos não perecíveis.
   Sujar os calouros com tinta, farinha, lama, ovos e raspar a cabeça dos rapazes são práticas tradicionais, que deveriam respeitar a disposição dos calouros a participar, sem qualquer tipo de pressão.
     Na prática, não é isso que acontece. Além disso, as substancias utilizadas para esse tipo de trote são cada vez mais “preparadas” como ovos podres, água de peixe, vômito, entre outros, sendo que algumas vezes tais “preparos” são ingeridos pelos calouros, obrigados pelos veteranos.
    Os trotes geralmente começam como uma brincadeira regada a bebidas alcoólicas como cerveja, uísque, entre outras. E, alguns tipos de trotes os veteranos induzem, e por vezes forçam os calouros a se embebedarem até ficarem inconscientes.
    Pedir dinheiro no semáforo, o “pedágio”, para recuperar peças de roupas, calçados e objetos pessoais “confiscados” pelos veteranos também é prática comum.
    Alguns casos extremos tornaram-se públicos por meio da mídia, como o caso do calouro que morreu afogado em uma piscina durante o trote em São Paulo, ou dos veteranos que foram expulsos após obrigarem um calouro a deitar em cima de um formigueiro em Minas, que só não morreu por não ser alérgico a picada de insetos.

FILOSOFIA & MULHER

A HISTÓRIA DA MULHER NA FILOSOFIA
Por Miriam Ilza Santana
A importância social das mulheres enquanto seres que pensam foi e permanece sendo um desafio para que haja um equilíbrio no relacionamento homem/mulher.
- Platão já detinha um pensamento diverso, as mulheres eram tão capazes de administrar quanto o homem, pois para ele quem governa tinha a obrigação de gerir a cidade-Estado se utilizando da razão e para Platão as mulheres detinham a mesma razão que os homens;
- Aristóteles via a mulher como um homem não completo, para ele todas as características herdadas pela criança já estavam presentes no sêmen do pai, cabendo a mulher somente a função de abrigar e fazer brotar o fruto que vinha do homem, idéia esta aceita e propagada na Idade Média;
- Para São Tomás de Aquino uma vez a mulher tendo sido moldada a partir das costelas de um homem sua alma
tinha a mesma importância que a do homem, para ele no céu predomina igualdade de direitos entre os sexos, pois assim que se abandona o corpo desaparecem as diferenças de sexo.
Na grade curricular escolar ou universitária pouco se nota a participação de mulheres que tenham se notabilizado como filósofas.
Na maioria das pesquisas realizadas falta uma alusão a respeito de dados sobre a vida e obras de pensadoras, o que nos leva a concluir que há uma certa depreciação em relação ao trabalho científico das mulheres na vida acadêmica e sua atuação na história da constituição da sabedoria.
Com base em tal afirmação pode-se afirmar que a mulher sempre foi bastante discriminada no meio pensante.
A mitologia grega destaca as mulheres representando-as na figura de suas deusas: Ártemis, Atena, Afrodite, Deméter, Hera, Perséfone, Pandora e Gaia, ainda que a inteligência e o pensamento sejam simbolizados pela deusa Minerva (variante latina da deusa Atena), é importante realçar que esta veio ao mundo não através do corpo de sua mãe e sim da cabeça de seu pai, Zeus, o que evidencia desde o início que a mulher já não tinha nenhum valor.
Para a história combinar idéias, formar pensamentos, sempre foi julgado um direito pertinente aos homens, mas mesmo com tanta discriminação as mulheres conseguiram garantir uma pequena participação das mulheres na vida acadêmica.
Um dos poucos apontamentos históricos sobre o assunto foi a criação de um núcleo de formação intelectual somente para mulheres, educandário fundado por Safo, poetisa de Lesbos que nasceu em 625 a.C.
O pensamento que vigorava é o de que as mulheres somente tinham direito a um corpo e uma mente, porém não os dois ao mesmo tempo, pois desta forma a mulher nunca poderia gerar a razão.
- Na visão de Pitágoras a mulher era vista como um ser que se originou das trevas; passando a ser tudo uma coisa só.
- Para Hegel a altercação existente entre um homem e uma mulher é igual a que há entre um animal e uma planta, sendo que o animal se identifica mais com o jeito do homem e a planta se molda mais conforme o aspecto da mulher, pois seu progresso é mais pacato, deixando-se levar mais pelo sentimentalismo, se estiverem no comando o Estado corre perigo pois, segundo ele, elas não atuam de acordo com as exigências do agrupamento de pessoas que estão governando e sim conforme seu estado de espírito.
Todavia, embora a discriminação sofrida pelas mulheres no caminho da filosofia é notável que, ao longo da história da filosofia, certas mulheres se enfatizaram como criaturas humanas que procuraram pela sabedoria e trilharam os passos da ciência. No século XX há uma evidência especial a algumas filósofas importantes. Dentre elas, podemos citar Hannah Arendt, Simone Weil, Edith Stein, Mari Zambrano e Rosa Luxemburgo. Estas mulheres, contestando a ordem patriarcal de sua época, tornaram-se filósofas admiráveisl e, sem dúvida, colaboraram terminantemente para a constituição do conhecimento.
Diante deste quadro apresentado, pode-se afiançar que a inferioridade da mulher é tida como um tanto natural e invariável. Este espectro do “feminino” esteve presente na história da filosofia e permanece como um combate singular para as mulheres filósofas. Enquanto ser humano, a mulher é dotada de razão, mas o uso íntegro e apropriado ainda é privativo do ser masculino.
Fontes
http://hysterocracya.blogspot.com/ 2007/01/mulher-e-filosofia.html
http://www.espacoacademico.com.br/058/
58andrioli_liria.htm


FILOSOFIA II

FILOSOFIA GREGA
 
A história filosófica teve início a mais de dois mil e quinhentos anos. Foi na Grécia Antiga que esta ciência nasceu e ganhou suas primeiras dimensões.
Apesar de conviverem em cidades-nações diferentes e adversárias entre si, os gregos conse guiram dar origem a uma comunidade única em relação à língua, religião e cultura que impulsionou o grande salto da ciência na Idade Antiga.

A extraordinária capacidade intelectual grega foi a causadora do extraordinário progresso das diversas áreas do conhecimento, as artes, a literatura, a música e a própria filosofia.
A Filosofia se esforça por conhecer de forma clara e racional a natureza, o ser humano e o universo que nos rodeia e a metamorfose que nelas acontecem.
A filosofia grega pode ser dividida em três etapas: período pré-socrático, socrático e helenístico.
No período pré-socrático, a Filosofia foi empregada para elucidar a procedência do mundo e das coisas a sua volta, foi representado pela physis (natureza) que procurava compreender através da razão a origem e as mudanças que acometeram a natureza e o ser humano ao longo do tempo; destacou-se nesta fase o filósofo Tales de Mileto.
Já o período socrático apontou para uma modificação a respeito do elemento de pesquisa da filosofia, que sai da metafísica e caminha em direção ao homem em si.
Este período destacou-se pelo surgimento da democracia que concedeu o direito de paridade a todas as pessoas que vivessem nas polis – hoje cidades – concedendo-lhes inclusive a faculdade legal de tomar parte no governo e se necessário sugerir alguma mudança na educação grega já que as pessoas tinham precisão de saber falar e persuadir as demais.
O período helenístico surgiu após o declínio político das polis e o surgimento de um conjunto de disciplinas que, além de trabalhar com a natureza e o estudo das leis do raciocínio, procuravam também dar ênfase a felicidade e a ensinar as pessoas a encontrarem a maneira correta de direcionarem a própria vida.
Nestes períodos ocorreram vários atos por parte de alguns filósofos que mereceram grande destaque, tais como: a criação da filosofia humanista por Sócrates, a fundação da Academia de Atenas por Platão e a doutrinação da lógica e de muitos outros conhecimentos como a metafísica, a moral e a política por Aristóteles.

FILOSOFIA & POLITICA

Platão - o primeiro filósofo a sistematizar uma ideia política
Entre as diversas questões que a filosofia visa investigar, pode-se perguntar sobre como é e como deveria ser o convívio em sociedade. Se for investigada a palavra política, que vem do grego, será compreendido que politika refere-se aos assuntos da cidade (pólis). É neste sentido que, em filosofia política, pergunta-se sobre a natureza das leis, a natureza do governo, a origem da organização social e sobre qual seria a melhor forma de convívio entre os indivíduos. Todos estes temas nos levam a pensar sobre o espaço público, que é o espaço da política.
O primeiro filósofo a sistematizar uma ideia política foi Platão (428-7 – 348-7 a.C.). Ele escreveu sobre o assunto principalmente em dois livros, A república e As leis. Nestes livros, apresenta a ideia de que uma sociedade bem ordenada é aquela onde cada indivíduo desempenha a função na qual é mais habilidoso. Os hábeis com as mãos deveriam ser artesãos, os fortes devem proteger a cidade e os sábios devem governá-la. Platão pensa também sobre como deve ser a educação nesta cidade ideal, para conseguir desenvolver em cada criança o seu potencial a fim de que possa executar melhor a sua função. Cada indivíduo, para ele, será livre enquanto estiver cumprindo as leis, criadas com o intuito de melhor conduzir a cidade.
Ainda no mundo grego, Aristóteles (384 – 322 a.C.) vai discordar de Platão. Em Política, Aristóteles pensa que a cidade ideal de Platão, onde há prioridade daquilo que é público sobre aquilo que é privado, não funcionaria muito bem. Para ele, as pessoas dão mais valor ao que pertence a si mesmo, do que ao que pertence a todos. Aristóteles se preocupou menos com hipóteses de uma sociedade perfeita e mais em compreender a realidade política de seu tempo, estudando as leis de diferentes cidades e as formas de governo existentes. A melhor forma de organização política, defendida por ele, é um sistema misto de democracia e aristocracia, chamado politia, para evitar os conflitos de interesses entre os ricos e pobres. É dele também a ideia de que o homem é um animal político, isto é, que faz parte da natureza humana se organizar politicamente.
A ideia de que é natural se organizar politicamente perdurou até o séc. XVII. Thomas Hobbes (1588 – 1679), conhecido por ter escrito Leviatã, propôs a ideia de que a sociedade se organiza a partir de um contrato social. Pensou assim, pois é possível imaginar uma hipótese sobre o convívio humano antes da formação das sociedades. Hobbes via esse momento como uma guerra de todos contra todos, onde, em liberdade, cada indivíduo iria apenas pensar em sua conservação. Deste momento, no qual o homem é o lobo do homem, a racionalidade faz o homem perceber que a melhor forma de conservar a sua vida é perdendo um pouco de liberdade. É neste instante que os homens assinam um contrato fictício de convívio social. A partir desta origem da sociedade, Hobbes pensa no melhor governo para evitar o retorno para um estado de natureza caótico. Com isto, vê a garantia da vida como função vital do Estado, que deve defendê-la mesmo que use de seu poder para coagir a liberdade dos cidadãos.
Pensando na ideia de um contrato social, John Locke (1632 – 1704), em seus dois tratados políticos, escreveu que antes da formação das sociedades os indivíduos não viviam em guerra, pois estavam debaixo de leis naturais. Para ele, é natural a garantia da vida e os homens racionais respeitariam esta lei. A formação das sociedades ocorre pela necessidade da garantia da propriedade. O melhor governo, para Locke, é aquele que garanta os direitos à vida, liberdade, propriedade e de se revoltar contra governos injustos e leis injustas.
Ainda pensando sobre a noção de contrato, Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) via o homem vivendo antes da formação das sociedades de forma bem otimista. Para Rousseau, havia terra e alimento para todos e não haveria motivos para que guerreassem entre si. Via no surgimento da propriedade o surgimento da desigualdade, de onde resultam diversos males sociais, como os roubos e os assassinatos. Neste sentido, sendo impossível retornar a um estado de natureza, o melhor governo é aquele que esteja de acordo com a vontade da maioria.
A forma de pensar dos contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau) foi retomada no século XX por John Rawls (1921 – 2002). Para ele, a sociedade deve basear-se em princípios de justiça escolhidos na fundação da sociedade. Em igualdade, ele pensa, os indivíduos escolheriam dois princípios de justiça, o de liberdades iguais para todos e o de que as desigualdades devem trazer maior benefício para os menos favorecidos e serem acessíveis a todos por igualdade de oportunidade.
Filipe Rangel Celeti
Colaborador Mundo Educação
Bacharel em Filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – SP
Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP
Por Filipe Rangel Celeti

CIÊNCIAS E FILOSOFIA

FILOSOFIA E CIÊNCIAS:

Filipe Rangel Celeti
Francis Bacon - A figura mais importante para a Filosofia da Ciência
Filosofia da ciência é a área da filosofia que pergunta sobre a ciência, de quais ideias parte, qual método usa, sobre qual fundamento e acerca de suas implicações. Apesar destes problemas gerais, muitos filósofos escreveram sobre algumas ciências particulares, como a física e a biologia. Não apenas se utiliza a filosofia para pensar sobre a ciência, como se utiliza resultados científicos para pensar a filosofia.
Não existe determinada ciência que faça parte dos estudos da filosofia da ciência. As ciências naturais (ex.: biologia, química e física), formais (ex.: matemática, lógica e teoria dos sistemas), sociais (ex.: sociologia, antropologia e economia) e aplicadas (agronomia, arquitetura e engenharia) já foram objetos de estudos filosóficos.
Historicamente, já na Grécia Antiga se pensava sobre a ciência. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), por exemplo, escreveu sobre a origem da vida, afirmando a possibilidade de existir vida a partir de algo inanimado. A teoria da abiogênese (geração espontânea) que ele defendia perdurou por diversos séculos. Além da origem da vida, Aristóteles também se preocupou em elaborar um meio de estudar as espécies, sendo ele o primeiro a propor uma divisão do reino animal em categorias.
No decorrer da história, a figura mais importante para a filosofia da ciência é Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês responsável pela base da ciência moderna, o método indutivo. A indução, método de a partir de fatos particulares chegar a conclusões universais, já existia, mas é Bacon o responsável por seu aprimoramento e divulgação.
Após Bacon, muito se pensou e escreveu sobre a ciência, especialmente devido aos avanços e descobertas dos séculos seguintes. René Descartes desenvolveu seu método, houve as contribuições e discussões de Galileu Galilei, Isaac Newton, Gottfried Leibniz e outros. Deste aumento considerável de pensadores que detiveram tempo acerca do campo da filosofia da ciência pode-se escolher alguns para comentar suas importantes ideias. Entre eles, David Hume e Karl Popper.
David Hume (1711-1776), filósofo escocês, criticou fortemente as bases da ciência e da filosofia. A partir do pensamento de John Locke (1632-1704), Hume levou o empirismo, isto é, a ideia de que todo o nosso conhecimento tem origem na experiência (nos cinco sentidos), até as últimas consequências. Para ele, se nosso conhecimento ocorre após a experiência significa que não podemos deduzir eventos futuros. Significa dizer que não há nada no mundo que garanta que as leis que regem o universo hoje serão as mesmas amanhã. Por mais que o homem observe há milênios o sol aparecer todos os dias, nada garante o seu aparecimento amanhã, e por isso a ciência não pode tomar suas conclusões como verdades absolutas.
No século XX, o filósofo austríaco, Karl Popper (1902-1994) criticou a forma de fazer ciência a partir da indução, o método defendido por Bacon. Para Popper, o método indutivo não garante a validade de suas conclusões. Afirmou isso, pois não é possível ter acesso a todos os fatos particulares para ser possível chegar a conclusões. Um cientista pode observar cisnes durante 20 anos e perceber que todos os cisnes observados são brancos, mas ele não pode concluir que “todos” os cisnes são brancos. Se ele concluir isto, bastará a existência de apenas um cisne negro para invalidar sua tese. Com isto, Popper defenderá que o papel da ciência é falsear as suas conclusões a partir do método dedutivo, partindo de conclusões universais para a verificação particular. O papel da ciência é verificar se suas conclusões são verdadeiras, tentando falseá-las com a experimentação.
Filipe Rangel Celeti
Colaborador Mundo Educação
Bacharel em Filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP
Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP
Por Filipe Rangel Celeti

FILOSOFIA & FILOSOFIA GREGA

Filosofia Grega

A filosofia tem uma história de mais de dois mil e quinhentos anos. Foi na Grécia Antiga que essa ciência surgiu e tomou as primeiras proporções. Embora vivessem em cidades-nações distintas e rivais entre si, os gregos conseguiram desenvolver uma comunidade única de língua, religião e cultura, que foi responsável pelo grande avanço da ciência na Idade Antiga. A genialidade grega foi responsável pelo avanço de diversas áreas do conhecimento, como artes, literatura, música e filosofia.

A filosofia grega pode ser dividida em três fases: período pré-socrático, socrático e helenístico. No período pré-socrático, a filosofia foi utilizada para explicar a origem do mundo e das coisas ao redor. Os pré-socráticos buscavam um princípio que deveria estar presente em todos os momentos da existência de tudo. Os principais filósofos dessa fase foram: Tales de Mileto, Heráclito, Anaximandro, Xenófanes e Parmênides.


O período socrático foi caracterizado pela mudança em relação ao objeto de estudo da filosofia, passando da metafísica para o homem em si. Esse caráter antropológico se deu através dos três principais filósofos gregos: Sócrates, Platão e Aristóteles.

O período helenístico compreende desde o final do Século III a.C até o Séc. II d.C. Essa fase foi marcada pela associação da visão cristã à filosofia, passando a crer mais em soluções individuais que coletivas. Entre os filósofos deste período, podemos citar: Marco Aurélio, Séneca, Epíteto, Lucano, Pirro de Elis, Antístenes, Diógenes de Sínope, etc.
Por Tiago Dantas