Álbum de família
Texto: Roberta Faria
A vida de meu pai pode ser contada por seus álbuns de fotos.
São 65 anos de retratos amarelados, que acompanham seus primeiros passos, as
brincadeiras de criança, a formatura na faculdade, o nascimento dos filhos, as
grandes viagens.
Minha infância e juventude também estão em álbuns de capa dura
cafona e papel-filme colante, em fotos coloridas de todos os aniversários.
Minha filha, quando estiver na minha idade, ou na do meu pai, não terá a mesma
memória. Não porque não tenha tirado fotos: há milhares delas. Mas quase nunca
elas viraram papel. Estão guardadas em computadores, sites, celulares.
Fruto da
era digital, o hábito de não imprimir mais fotos e colecioná-las em álbuns
mudou até a economia: velhas grandes empresas, como Kodak e Polaroid, estão
deixando de produzir máquinas, filmes e papel fotográfico.
A extinção próxima inspira movimentos como o
www.polanoid.net, de fãs da máquina que revela na hora a foto batida. O site
reúne instantâneos de todo tipo, do mundo inteiro, como um imenso e lindo álbum
de fotos coletivo. Seja na tela, seja no papel, arquivar as imagens preserva a
nossa história.
Descobrir quem é aquele com o corte de cabelo bizarro, perceber
quanto você é parecido com sua tia-avó, rir das modas passadas e nos lembrar
das pessoas que amamos e esquecemos são saudades que só um álbum revela.
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