Ontem precisei ligar para duas famílias cujos entes queridos evoluíam mal.
O choro, a angústia, a solidão... a falta do abraço, é comum a todos.
Mas entre muitos casos tristes, dois deles me tocaram pela felicidade.
Um senhor de 69 anos, conseguiu ser extubado (sair da ventilação mecânica e respirar sozinho), e no dia seguinte seu bisneto nasceu.
Eu e a residente fomos dar a notícia, ele chorou muito, e nós choramos juntos.
Ele disse: eu criei esse neto, ele mora comigo, se Deus quiser vou sair daqui! E saiu da UTI depois de 48 h da extubação.
Hoje provavelmente o paciente de 40 anos sairá da UTI após 10 dias. Ontem através do vidro me comuniquei com ele (estava sob os cuidados de outro colega e evitamos entrar desnecessariamente para evitar contaminação e poupar EPIs) e ele ergueu o braço do lado de lá, e eu do lado de cá... e fizemos o V da VITÓRIA com os dedos!!! Ele estava completamente apático semana passada.
Não temos só derrotas, vivemos vitórias também. Se todos puderem ter uma assistência adequada o número de óbitos será menor.
Mas para isso não pode ter um grande número de pessoas gravemente doente ao mesmo tempo. Não há leitos de UTI suficiente. Se isso acontecer muitos padecerão pela falta de recursos.
Essa luta é de todos. Enquanto estamos na linha de frente, medicamentos estão sendo testados e estudados. É uma corrida contra o tempo. Enquanto isso, todos precisam fazer sua parte, evitando a contaminação.
Afinal, prevenir sempre foi melhor que remediar. E essa frase nunca foi tão importante quanto agora.
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