Se
a verdade é subjetiva, decorre daí uma liberdade ilimitada. Kierkegaard não só rejeitou
o determinismo lógico de Hegel (tudo está logicamente predeterminado para
acontecer) como também sustentou a importância suprema do indivíduo e das suas
escolhas lógicas ou ilógicas. Qualquer forma de absoluto (E aí está um ataque a
Hegel) que não seja a liberdade, será necessariamente restritiva da liberdade.
Qualquer forma de absoluto que não seja a liberdade, contraria a liberdade. Para
Kierkegaard é mesmo impossível que a liberdade possa ser provada
filosoficamente, porque qualquer prova implicaria uma necessidade lógica, o que
é o oposto de liberdade.
O
pensamento fundamental de Kierkegaard, e que veio a se constituir em linha
mestra do Existencialismo, é a falta de um projeto básico para a existência do
homem, venha de onde vier. Qualquer projeto para o homem representaria uma
limitação à sua liberdade, e afirma
que esta liberdade é, portanto, incompatível com a malha lógica em que, segundo
Hegel, caem todos os fatos e também as ações humanas e, mais ainda, que a
liberdade gera no homem profunda insegurança, medo e angústia. Não existe uma
essência definidora do
homem; nenhum projeto básico. Esse pensamento de Kierkegaard foi mais tarde
traduzido por Sartre na frase "no homem, a existência precede a
essência".
Sua
crença na necessidade de que cada indivíduo faça uma escolha consciente e
responsável tornou-se outro pilar do movimento existencialista. O
individualismo existencialista é sua ênfase principal. Com efeito, dos temas do
existencialismo contemporâneo, a maior parte já está nos escritos de
Kierkegaard.
Angústia. Kierkegaard sentiu a necessidade de
ampliar para a esfera da psicologia suas idéias a respeito da filosofia da liberdade.
O resultado foi o conceito de angústia e o conceito
de desespero, se podemos realmente diferenciá-los em sua obra, pois aparentemente,
nas traduções inglesas, acham-se baralhados.
Em
"O conceito de angústia", disse que a liberdade gera no homem profunda
insegurança, medo e angústia. Ele focaliza a angústia, como medo do indefinido
do desconhecido, diferente do medo e do terror diante do perigo conhecido, o
medo e terror que deriva de uma ameaça objetiva (por exemplo, um animal, um
assaltante, etc.). Esta é talvez a primeira obra escrita de psicologia
existencial, - descobre um sentimento que não tem objeto definido, claro.
A
liberdade presume possibilidades, e as possibilidades criam a angústia, seja
porque estão escassas, ou, no outro extremo, porque existe um número muito
grande de opções. Um colapso pode ocorrer tanto por muitas quanto por poucas
possibilidades abertas ao indivíduo. Por isso torna-se um verdadeiro problema
de vida descobrir quais são os verdadeiros dons e talentos de uma pessoa.
Em
"Risco e incerteza" diz que cada decisão é um risco. A pessoa sente a
si mesma rodeada e plena de incertezas. No entanto, ela decide. Existem
possibilidades reais, - reconhece -, e qualquer filosofia que as negue é
opressiva, sufocante. A angustia e o pavor diante da liberdade em relação às
possibilidades, o que ele
considera
uma doença do espírito, têm três origens: Uma é a materialidade, a
inconsciência de que se é tanto um ser espiritual quanto físico.
Falta
de espiritualidade: Estar inconsciente de que se tem um Eu - de que se é um ser espiritual
e não meramente um ser físico ou físico-mental. Falhar em compreender que se é
capaz de reflexão, que se é uma síntese. Outra origem é a consciência do Eu
interior, quando o homem tem consciência do seu Eu, mas não o aceita, e
desespera-se por ser esse Eu, por ser de um certo modo, sem conseguir
modificar-se. Gostaria de ser César, por exemplo..
O
Eu quer escapar do Eu que ele sabe que é. Parece que o indivíduo se desespera com
respeito a alguma coisa. Mas é apenas aparência. Na verdade desespera com respeito
a si mesmo e por isso quer se livrar de si próprio. Quanto tem um slogan ambicioso
"Ou César ou nada" e não consegue chegar a ser César, ele se
desespera por isso.
Mas
isto também significa outra coisa: precisamente porque ele não conseguiu ser César,
ele agora não consegue tolerar a si mesmo, ser ele mesmo. Conseqüentemente ele
não se desespera porque não chegou a ser César mas se desespera sobre si mesmo
pelo fato de não haver conseguido ser César. Conseqüentemente, desesperar-se
sobre alguma coisa não é propriamente o desespero: este é desesperar-se de si
mesmo porque não chegou a ser César. Desesperar alguém sobre si mesmo, em
desespero de desejar livrar-se alguém de si mesmo - esta é a formula de todo desespero.
A
terceira origem é o desespero do desafio, da provocação, da rebeldia, da
oposição: consciente
do eu interior e desejando afirmar esse Eu, o homem se desespera pelas
suas limitações. Não reconhece a relatividade e a dependência última do Eu
humano perante Deus.
Encapsulamento
ou má fé. Passar da ignorância confortável para a autoconsciência
leva ao pavor, ou ansiedade. Perguntando que estilo e estratégia uma pessoa usa
para evitar a ansiedade, Kirkegaard pergunta como essa pessoa está escravizada
por suas mentiras sobre ela mesma e para ela mesma. Uma forma de fuga é ignorar
o próprio eu, tornar-se um autômato, apegar-se a um papel.
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