De Troia a Sagres de bicicleta
Fim de semana sozinho em Lisboa,
cansado da rotina do trabalho, excelente tempo de sol e algum frio.
Ingredientes perfeitos para uma aventura espontânea. Sair bem cedo de
Lisboa montado na minha bicicleta e pedalar para sul, até ao Algarve, sozinho!
Porto Covo
Inspirado pela fantástica viagem de uns amigos escaladores, que fizeram Sines -> Sagres pela costa alentejana
no ano passado, tentei repetir a aventura, mas partindo de Troia,
depois de uma curta viagem de comboio até Setúbal e de atravessar no ferry boat para a península.
Ilha do Pessegueiro
Os primeiros 70Km foram apenas
de ligação, sendo que a primeira verdadeira etapa começou em Sines, numa
fantástica estrada costeira até Porto Covo, onde almocei um belo bife da vazia. De barriga cheia atravessei a praia e fui dormir uma bela sesta em frente à Ilha do Pessegueiro.
Estrada costeira, a partir do Forte do Pessegueiro
A segunda etapa ligava Porto Covo a Vila Nova de Mil Fontes.
Antevia-se uma excelente e estética etapa, junto ao mar, por belos
estradões de terra, mas que logo se transformaram em areia e numa etapa muito dura. Ora pedalar, ora empurrar, ora andar... foram mais de 15Km nisto!
Cansado de empurrar a bicicleta por caminhos com muita areia!
Finalmente chego a Vila Nova de Mil Fontes onde por enorme coincidência encontro um CouchSurfer com quem tinha trocado umas mensagens no dia anterior enquanto procurava dormida! Ele ia de carro com outras CouchSurfers em direcção a uma das praias quando me reconheceu. Grande coincidência!
Cabo Sardão
A
paragem foi rápida, para um pequeno lanche e comecei logo a terceira
etapa, mais uma ligação por estrada até ao Cabo Sardão, com uma pequena
paragem em Almograve para pedir indicações a dois alentejanos que bebiam
cerveja num café. Por sorte um deles fazia BTT e deu-me mais algumas
indicações que me levaram a um dos melhores troços de toda a viagem!
Cabo Sardão - Zambujeira
Uma
fantástica estrada de terra batida, com pouca areia mas alguma lama,
sempre junto ao mar, mas por falésias. Lá em baixo o mar bravo. Cá em
cima um final de tarde fresco com sol poente. Foram provavelmente os
melhores momentos da viagem!
Falésias entre o Cabo Sardão e a Zambujeira
Depois
de me perder um pouco para descobrir a passagem por um pequeno ribeiro,
lá percorro os derradeiros quilómetros até à Zambujeira, onde iria
pernoitar, mais de 130Km depois, mas não sem antes me atirar ao mar!
Banho de mar na Zambujeira, em Fevereiro, num fim de tarde fresquinho
Haviam
turistas a tirarem-me fotos do cimo da falésia. Devia parecer um maluco
a banhar-me em cuecas no lusco fusco de uma tarde de Inverno. Mas soube
bem, foi revitalizador. Procurei um sítio para jantar, comi uma sopa
quente e fui dar uma volta. Ai, ai, ai.. que dores nas pernas!
O
plano inicial era dormir na praia, para isso estava a carregar um
saco-cama às costas. Mas o orvalho que já tinha tudo molhado pelas 21h,
aliado ao cansaço da viagem e ao que ainda teria de percorrer no dia
seguinte, levaram-me a ceder ao conforto de uma pensão bem negociada
para uma noite rápida bem dormida.
Muita areia e água à saída da Zambujeira
Levantei-me
cedo para a primeira etapa do dia, onde tentei forçar caminhos mais
costeiros, mas logo me deparei com muita areia e poças intransponíveis. O
meu objectivo de chegar a Sagres levou-me de volta à estrada nacional e
aí dei corda aos sapatos, isto é, pedalei costa abaixo!
Pelos campos verdejantes da costa alentejana
Pedalei
a manhã toda por estrada nacional. Grandes descidas até Odeceixe,
seguidas por uma grande subida até Aljezur. Viragem à direita para Vila
do Bispo onde bem junto à Serra de Monchique com os seus altos e baixos
lá para a zona da Carrapateira. Já no planalto "final", com Vila do
Bispo ao longe, nova viragem à direita para voltar às falésias e às
paisagens marítimas.
Vila do Bispo - Sagres
Estes
10Km entre Vila do Bispo e Sagres, em estrada durinha de terra
avermelhada e molhada, com vento muito forte mas pelas costas, foram
feitos a alta velocidade. A par do troço Cabo Sardão - Zambujeira, um
dos melhores momentos de toda a viagem, com o prémio de chegar ao ponto
mais Sudoeste da Europa, vindo de Lisboa, montado na minha bicicleta. E
que bem que soube!
Eu, a bicicleta e o Cabo de S. Vicente!
Missão
cumprida. Agora restava voltar para casa, de comboio. Primeiro teria de
pedalar mais de 30Km, contra o vento até Lagos. Sem dúvida a pior parte
da viagem. Como o objectivo era Sagres e já estava cumprido, decidi
pedir boleia, sem nenhum sucesso. Até que um motorista de shuttle bus
entre o aeroporto e hotéis da região estava com bastante tempo livre e
decide levar-me mesmo até à estação. As coisas estavam a correr bem!
Peço
o bilhete de comboio que me levaria de volta a Lisboa e sou informado
da greve da CP. "De comboio não vai para Lisboa hoje, só se o for
apanhar a Tunes daqui a 2h, que fica a 50Km". Ora bolas, que insólito.
Vim eu de Lisboa até aqui e agora não tenho transporte de volta.
Autocarro,
têm de haver autocarros! Pois, mas não transportam bicicletas. Encontro
outros aventureiros na mesma situação que eu e lá tivemos de nos
desenrascar. Com sacos, cartões e muita fita cola, lá "escondemos" as
nossas bicicletas na mala do autocarro, um truque muito tuga para
contornar o sistema.
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